Só quem tem um animal em casa sabe como ele deixa a vida mais colorida e alegre. Mas os cães, gatos e canários também podem ter problemas de saúde. Portanto, não se alarme se seu bichinho de estimação tiver diabetes. Ele vai continuar saudável e feliz desde que seja tratado adequadamente e com amor.
A população de animais de estimação está crescendo em todo o mundo. No Brasil ocorre o mesmo fenômeno. Difícil você encontrar uma pessoa que não tenha em casa um cão, um gato, uma ave ou um peixinho colorido. Além de atraentes, eles deixam o ambiente mais bonito, aconchegante, descontraído e cheio de energia positiva. É impossível ficar deprimido e sentir solidão quando se tem um bichinho por perto. Mas esse companheiro de todas as horas, pode vir a ter diabetes.
Um gato ou um cão com diabetes, por exemplo, precisa tomar doses diárias de insulina para sobreviver. E quem tem que fazer isso com uma dose enorme de afeto é você, porque o bichinho normalmente está debilitado. O animal exige amor sem limites e muita paciência. “Uma dedicação recompensada pela alegria e afago espontâneo do animal”,afirma Ana Elisa De Rizzo. Ela é dona de Vickie, uma cadela Setter Irlandês, com diabetes desde 1999.
Ana conta: “Foi necessário muita coragem e perseverança até receber o diagnóstico correto de que o animal tinha diabetes. Depois foi outra batalha. Uma verdadeira epopéia para acertar a dosagem correta de insulina. Confesso que já estava desanimando quando soube que na USP/SP havia um grupo veterinário que trabalhava especificamente com animais com diabetes.
Desde o início, os veterinários Dra. Denise Simões e Dr. Ricardo Duarte deram à Vickie toda a atenção”. Eles me explicaram: “se você quiser que o animal viva mais e saudável, isso vai depender muito de você”. “Na época ela tinha 8 anos. Hoje é uma cadela atleta aos 12 anos, alegre e feliz.
Como os demais cães que têm diabetes, Vickie é insulino-dependente. Todos os dias aplico na região lombar duas doses de insulina, às 9 horas da manhã e às 21 horas. Um bicho com diabetes não pode ficar sozinho nunca! Quando viajo costumo deixá-la com minha mãe, ou no hotel veterinário, porque sei que está sendo muito bem cuidada”.
Muita dedicação e amor
Segundo os médicos veterinários, especialistas em diabetes, Dr. Ricardo Duarte, Dra. Denise Simões e Dra. Cristina Fotin que também é especialista em animais silvestres, “Os animais de estimação se vêm desenvolvendo diabetes com bastante freqüência. As raças caninas mais predispostas ao diabetes são poodle, cocker, beagle, fox paulistinha, pinscher, rotweiller, schnauzers. Nos gatos, a disfunção tem sido diagnosticada em raças mais populares, como o siamês, por exemplo. Em aves, a maior incidência é em canários”, observam.
Os veterinários, em entrevista exclusiva a De Bem com a Vida (Roche), falam mais sobre o assunto:
Qual a relação de incidência de diabetes em animais comparada ao homem?
- Dr. Ricardo: Sem dúvida a incidência do diabetes em cães e gatos é menor do que em seres
humanos. Entretanto, nas útimas décadas a ocorrência da doença em animais de estimação vem
aumentando consideravelmente. É muito provável que isso se deva ao aumento de expectativa de vida
dos nossos bichos. Embora possa ocorrer em qualquer idade, o DM acomete principalmente animais
idosos.Além disso, é cada vez mais comum nossos pacientes serem sedentários e obesos,
provavelmente reflexo de nosso próprio estilo de vida!
Quais os fatores que podem desencadear o diabetes nos animais?
- Dra. Denise: A causa de DM em cães, gatos e canários ainda está sendo estudada, mas acredita-se
que alguns fatores podem ser responsáveis por isso: predisposição genética, organismo mais
debilitado, pancreatite e fatores de resistência à insulina, como a obesidade entre outros.
Como é feito o diagnóstico do diabetes em animais?
- Dra. Denise: O diagnóstico do DM em cães e gatos é realizado pela demonstração de hiperglicemia
(> 250 mg/dl) e glicosúria persistentes e sintomas/sinais clínicos apropriados (excesso de produção de
urina e aumento de ingestão de água, emagrecimento). Cães geralmente manifestam esses sintomas
quando o quadro já é avançado e o diagnóstico é relativamente simples. Por ocasião do diagnóstico,
esses pacientes em geral apresentam glicemia por volta de 400 a 500 mg/dl. Assim o diagnóstico de
diabetes em cães não é um dilema. Gatos sem diabetes podem ter glicemias próximas a 200 mg/dl,
em condições de estresse (como, por exemplo a colheita de sangue) e isso às vezes torna o
diagnóstico do diabetes em felinos um pouco mais complexo.
Como é feito o tratamento do diabetes em animais?
- Dr. Ricardo: A insulinoterapia, geralmente combinada a uma alimentação adequada, é o tratamento
de escolha para cães e inicialmente para felinos. As insulinas de ação intermediária (NPH ou Lenta)
ou longa (Ultralenta) são utilizadas no tratamento de longo-prazo do animal com diabetes.
Virtualmente, todos os cães são insulino-dependentes e vão precisar de insulina o resto de suas vidas.
Geralmente são necessárias duas aplicações ao dia e o tratamento é bastante individualizado. Uma
parcela dos felinos pode ser tratada com anti-diabéticos orais ou mesmo dieta e exercícios (um quadro
semelhante ao diabetes tipo 2 do ser humano). Existem rações comerciais especiais para animais com
diabetes. Além do tratamento, os pacientes são avaliados quanto a outras doenças que podem ser
associadas, como hipertensão arterial e infecções, principalmente do trato urinário.
Como é feito o teste de glicemia? Existe algum monitor específico para medir a glicose em animais?
- Dr. Ricardo: Geralmente usamos monitores de glicemia portáteis destinados a uso humano. O pêlo
do bicho dificulta um pouco a colheita do sangue capilar com utilização de lancetas convencionais.
Entretanto, já existem lancetas que facilitam esse procedimento e alguns donos de pacientes com
diabetes conseguem monitorar a glicemia de seus animais em casa.
O tempo de vida do animal com diabetes é menor do que aquele que não tem diabetes?
- Dr. Ricardo: Segundo alguns estudos, cães e gatos com diabetes têm menor sobrevida do que
animais que não apresentam o problema. Entretanto, esses dados devem ser analisados com cuidado.
Esses estudos geralmente incluem animais com quadros graves de diabetes, como a cetoacidose
diabética ou portadores de outras doenças, não relacionadas ao diabetes. Outro ponto que vale a pena
lembrar é que a maioria das complicações crônicas do diabetes mal controlado demora de 10 a 15
anos para se manifestar. Cães e gatos com diabetes geralmente são idosos por ocasião do diagnóstico
e não terão tempo de vida suficiente para desenvolver tais complicações. Na nossa experiência, cães e
gatos com diabetes bem controlado têm a mesma expectativa de vida de animais normais.
No caso dos canários como são feitos o diagnóstico e o tratamento do diabetes?
- Dra. Cristina: É interessante notar que não tem sido observado diabetes em outras espécies de
aves, além das famílias de canários. Os sintomas apresentados pelos canarinhos de estimação são
iguais aos dos cães, gatos e do próprio homem. O animal começa a beber muita água. Em geral, o
dono atento acaba percebendo que alguma coisa está errada por essa razão. Embora o animal
emagreça as penas não deixam a pessoa perceber de imediato esse sintoma. O diabetes pode se
desenvolver em torno de 5 ou 6 anos de idade. Praticamente é impossível aplicar insulina. O
medicamento é colocado na água. O tratamento com remédios homeopáticos também tem sido usado.
Estas aves são propensas a apresentar catarata. O teste de glicemia é feito com monitor e o sangue é
colhido embaixo da unha. Infelizmente o diabetes encurta a vida dos canários, já que não se consegue
fazer um tratamento ideal. Eles costumam apresentar cetoacidose, hipoglicemia e hiperglicemia
freqüentes.
Fonte: Revista “De Bem com a Vida” da Roche Diagnóstica