No meio da tarde, em um café de Tokyo,
duas amigas se encontram para conversar sobre seus "filhinhos". "Ontem,
o Buri-chan comeu demais à tarde e não quis jantar", diz uma delas. "Eu
e a Nomu-chan passeamos bastante, ela andou demais e ficou muito
cansada", conta a outra. Até parece papo de mães que se encontram na
sala de espera do pediatra. Mas na verdade a conversa aconteceu no
Inuchaya Nekochaya, uma cafeteria feita especialmente para que os donos
levem seus pets. Buri e Nomu são dois cachorrinhos que costumam
freqüentar o lugar. Suas donas moram na região e ficaram amigas por
causa dos mascotes. "Nós nos conhecemos quando estávamos levando os pets
para passear. No começo, eu nem sabia o nome da dona, só o do pet. Os
dois são muito amigos", conta a "mãe" da Nomu, Kiyoka Kurayama.
Apesar
dessa situação parecer meio inusitada, no Japão o número de famílias
que têm pets, mas não têm crianças, é cada vez maior. Segundo dados do
Ministério da Saúde, Trabalho e Bem Estar, em 2005 o Japão teve 21.408
mais mortes do que nascimentos. Por outro lado, o número de cachorros
registrados no mesmo ano foi de 6.531.381, 55% a mais do que existia em
1995. Já os gatos registrados foram 12.097.000, o que significa um
aumento de 54%.
Com
cada vez mais animais de estimação - a maioria morando em apartamentos
bem apertados - também cresceram o mercado especializado nos pets e o
número de serviços oferecidos. Afinal, quem tem animais no apartamento
tem que levar o bicho para passear, tomar banho e brincar fora de casa.
Além disso, a falta de exercícios deixa os bichos mais estressados e
doentes. E assim surgiram pessoas especializadas em lever cachorros para
passear, hotéis e babás que tomam conta dos bichos quando os donos vão
viajar e planos de saúde só para eles.
Com
tudo isso, o mercado ligado aos pets movimenta cada vez mais dinheiro
no Japão. Em 2005, o valor gasto por uma família com seu pet era de ¥
12.424 por mês, 6,7% mais do que foi registrado em 2000. Mas, fora os
gastos básicos com comida e veterinário, muitos donos investem fortunas
com extravagâncias como festas de aniversário, coleiras feitas em joalherias e álbuns de fotos. A loja Anna Purena, que fica em Tokyo, por exemplo, é especializada em fazer fotos de pets. Para
alugar um vestido de noiva ou um terno para o bichinho e depois ter as
fotos gravadas em um CD-ROM, o dono de um cachorro gasta mais ou menos ¥
31 mil.
Porém,
chique mesmo são os bichinhos que têm o privilégio de se hospedar em
hotéis de luxo quando seus donos vão viajar. Nesses lugares, os animais
ficam em recintos com purificador de ar, umidificador e spa.
E nem quando um desses animaizinhos morre a dedicação dos donos diminui. O
funeral para animais de estimação custa, em média, entre ¥ 18 mil e ¥
44 mil. O animal é cremado e as cinzas são depositadas em um pote, com
foto e nome do bicho. Também existe uma opção para quem quer passar toda
a eternidade ao lodo do pet. Existem empresas que depositam as cinzas
do animal na mesma urna que seu dono. Dependendo do cemitério e do tipo
de urna, o preço pode ultrapassar ¥ 8 milhões.
Café bom pra cachorro
O
Inuchaya Nekochaya é uma cafeteria feita especialmente para os pets.
"Este não é um lugar em que os donos podem levar seus cachorros. Neste
café é a pessoa que acompanha o cachorro", diz Yasuhiro Niikura, gerente
do café.
O
estabelecimento é administrado pela Springboard Inc., uma empresa que
produz comida para cães e gatos. A companhia resolveu investir no
negócio para coletar mais informações sobre os pets e, assim,
desenvolver novos produtos que atendam as suas necessidades. Por conta
disso, os bichinhos que visitam o café ganham comidas produzidas pela
Springboard. Já os donos têm à sua disposição um menu feito para os
humanos. Mas, Niikura conta que
as pessoas também podem comer as comidinhas dos seus pets. "Quando
estamos fabricando o alimento dos pets, pegamos um peixe, por exemplo, e
retiramos a melhor parte para fazer a comida para os gatos. O que sobra
vai para o setor da empresa que produz comida para pessoas. A
prioridade é o pet e, por isso, o produto é saudável e saboroso".
Fora
a comida caprichada, os animais encontram um ambiente em que podem
ficar à vontade. Yukari Hamada, que trabalha no café, leva todos os dias
suas cachorrinhas, Tirorun e Poporun, para lá com ela. "Minha casa fica
a mais ou menos uma hora daqui e trago as cachorrinhas no trem, dentro
de uma bolsa bem grande. Elas adoram vir aqui, porque se sentem em
casa".
Apesar
de ficar à vontade no café, Tirorun, Pororun e todos os cachorros que
freqüentam o lugar são bem educados. "Até o momento não tivemos nenhum
problema e geralmente aparecem no restaurante pets bem treinados. Nunca
aconteceu nenhuma briga entre cachorros", diz Niikura.
Pet shopping
O
primeiro andar do shopping Venus Fort, em Odaiba (Tokyo), é liberado
para os clientes passear com seus animais, inclusive cachorros de grande
porte. Segundo Saiko Suzuki, funcionária da administração do Venus
Fort, "decidimos deixar os pets circularem aqui porque esta é uma área
para a família e os animais de estimação fazem parte das famílias. Fora
isso, no local há várias lojas relacionadas com animais de estimação".
Nesse andar do shopping existem três petshops, um quiosque especializado
em coleiras chiques e que também tira fotos de animais. O shopping
ainda tem uma área própria para que os cachorros possam correr livres -
nos corredores os bichos têm de andar presos em coleiras.
Segundo
Saiko, tanto cuidado com os animais vale a pena. "O movimento do
shopping aumentou depois que passamos a permitir que os clientes
trouxessem seus pets. Agora o Venus Fort até promove concurso de bichos
de estimação", conta.
Fonte:ipcdigital.com.br
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