Nosso projeto de trabalho
no Centro Psiquiátrico Pedro II não tinha a intenção de proteger o animal.
Nosso propósito visa relacioná-lo com o homem. Doar afeto àqueles seres
solitários aos quais muito poucos homens ou mulheres sequer dirigiam uma
palavra ou um gesto amigo.
A história do animal como
co-terapeuta ao nosso serviço foi o motivo central de meus maiores sofrimentos
como psiquiatra naquele Centro. Distinguiram-se nestes trabalhos de
co-terapeutas com animais, as colaboradoras: Maria de Nazareth Rocha e Dalva de
Araújo.
Observei que aos resultados
terapêuticos das relações afetivas entre o animal e o doente eram excelentes.
Mas era difícil que essa idéia tivesse campo para desenvolver-se. No Brasil a
aproximação entre terapeutas, ao contrário, afastava o animal do doente, sob
alegações inconscientes. Compensadoramente, amigos distantes foram
solidários: o prof. Boris Levinson, psicanalista americano, comentou por carta
esses fatos ocorridos no Brasil, como a expulsão, o envenenamento ou morte
contra os animais. Eis um trecho da carta: "Sem dúvida, para muitos desses
doentes, os animais eram sua única linha de vida para a saúde mental".
Outro pesquisador, da
Universidade do Estado de Ohio, prof. S. Corson, enviou-nos resultados de
pesquisas com esquizofrênicos e cães desenvolvidas por ele e sua equipe
"com extremo rigor para estabelecer princípios e limites no uso de animais
em psicoterapia". Apenas dois não melhoraram, dentre trinta casos citados.
O que se tem observado é
que animais como cães, gatos, peixes e pássaros são requisitados como novos
terapeutas em hospitais franceses, canadenses, americanos e suíços, depois de
ter sido constatado que eles são indispensáveis à melhora ou a cura dos
portadores de várias doenças.
Há animais que permanecem
no hospital em sua função de co-terapeutas e outros participam de visitas
organizadas a hospitais afim de levar vida e calor a esses frios lugares.
O gato
desafia também os cientistas por seus comportamentos difíceis de explicar. Os
cientistas professores H.Precht e Elke Linderlaub fizeram alguns experimentos
com o objetivo de investigar o comportamento de orientação dos gatos.
Procederam da seguinte forma: encerraram um gato num saco opaco e daí
levaram-no a um laboratório completamente escuro. Posteriormente, levaram o
saco contendo o gato para dar voltas e reviravoltas pela cidade, em sentidos
diferentes. Mas tarde, abriram o saco num labirinto que possuía vinte e quatro
saídas. Esperaram para verificar qual a saída que o gato escolheria. A
experiência foi repetida pelos cientistas com mais 142 outros gatos. A grande
maioria dos gatos seguia a mesma direção que os conduzia à casa onde
habitavam.
Quando
homens de má índole querem libertar-se de ninhadas de gatos, ou mesmo de gatos
não desejados em suas residências, costumam proceder desta mesma forma, isto
é, enfiam os gatos em sacos e os abandonam em regiões distantes e inóspitas.
Mas os malvados têm grande surpresa de verem os gatos voltarem, após longas e
duras caminhadas durante vários dias. Acreditavam ingenuamente que aquele
abandono fosse suficiente para se desfazerem do animal. Esse retorno permanece
um fenômeno ainda muito misterioso.
Foi o
estudo do funcionamento das vibrissas no ser humano que levou à descoberta do
radar. Alguns cientistas vêm dedicando-se ao estudo das especiais
potencialidades dos bigodes dos gatos que lhes parecem dotados de capacidades
semelhantes às do radar, isto é, habilidades para localizar objetos imóveis
ou em movimento, medir-lhes a velocidade, captar-lhes a emissão de microondas
moduladas, bem como analisar as mínimas pulsações emitidas pelos objetos.
Experiências
científicas revelaram que o sonho é elemento necessário ao funcionamento da
vida psíquica, tanto no homem como nos animais e talvez principalmente no
psiquismo do gato.
O estágio
do sonho REM (movimento rápido dos olhos) que é associado ao ato de sonhar,
não é particularidade exclusiva do ser humano. Tem sido observado também no
sonho de quase todos os animais mamíferos, sendo especialmente estudado nos
gatos. Desde que os prive do sonho REM nos experimentos, os gatos mostram
evidentes perturbações do seu habitual comportamento. Sob todos os pontos de
vista, parece que a etapa REM do sonho é biologicamente essencial.
Não só o
estudo dos mitos e suas significações nos ensina sobre a dinâmica da psique
na sua profundeza, como também a interpretação dos sonhos, isto é, das
imagens que neles se configuram em símbolos.
Durante o
sono, refletem significações reveladoras de ocorrências inconscientes de
problemas que perturbam o funcionamento normal da psique do sonhador.
Citaremos
aqui dois sonhos de pessoas nos quais o gato é o personagem principal,
figurando como emissário do mundo interno feminino, ao mesmo tempo imagem
simbólica e instinto.
Apresentaremos
nesse mês, o primeiro sonho.
" A
sonhadora fica surpreendida de encontrar em seu quarto dois gatos pequenos muito
magros. Põe um pires de leite para eles. Mas os gatos são tímidos e hesitam.
Um deles foge amedrontado, enquanto o outro aproxima-se com precaução e bebe o
leite.
Este sonho
apresenta em imagens o início do processo de aproximação entre consciente e
os emissários do mundo feminino inconsciente.
Oferecendo
leite aos pequenos gatos desnutridos, a personalidade consciente dá um passo em
direção ao inconsciente, toma a disposição de cuidar dos instintos
desprezados. Entretanto esta aproximação não se realiza sem hesitações e
recuos por parte do inconsciente, pois em experiências anteriores, muitas
tentativas já devem ter sido frustradas."
Fonte:pelosepatas.com.br
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