O cão (Canis
lupus familiaris), no Brasil frequentemente chamado de cachorro, é um
mamífero canídeo e talvez o mais antigo animal domesticado pelo ser
humano. Teorias postulam que surgiu do lobo cinzento no continente
asiático há mais de 100.000 anos. Ao longo dos séculos, através da
domesticação, o ser humano realizou uma seleção artificial dos cães por
suas aptidões, características físicas ou tipos de comportamentos. O
resultado foi uma grande diversidade de raças caninas, as quais variam
em pelagem e tamanho dentro de suas próprias raças, atualmente
classificadas em diferentes grupos ou categorias. As designações
vira-lata (no Brasil) ou rafeiro (em Portugal) são dadas aos cães sem
raça definida ou mestiços descendentes.
Com uma expectativa de vida que varia entre dez e vinte anos, o cão é um
animal social que, na maioria das vezes, aceita o seu dono como o
“chefe da matilha” e possui várias características que o tornam de
grande utilidade para o homem. Possui excelente olfato e audição, é bom
caçador e corredor vigoroso, relativamente dócil e leal, inteligente e
com boa capacidade de aprendizagem. Deste modo, o cão pode ser adestrado
para executar um grande número de tarefas úteis, como um cão de caça,
de guarda ou pastor de rebanhos, por exemplo. Assim como o ser humano,
também é vítima de doenças como o resfriado, a depressão e o mal de
Alzheimer, bem como das características do envelhecimento, como
problemas de visão e audição, artrite e mudanças de humor.
A afeição e a companhia deste animal são alguns dos motivos da famosa
frase: “O cão é o melhor amigo do homem”, já que não há registro de
amizade tão forte e duradoura entre espécies distintas quanto a de
humano e cão. Esta relação figura em filmes, livros e revistas, que
citam, inclusive, diferentes relatos reais de diferentes épocas e em
várias nações. Entre os cães mais famosos que viveram e marcaram
sociedades estão Balto, Laika e Marley. Na mitologia, o Cérbero é dito
um dos mais assustadores seres e, na ficção, Pluto, Snoopy e Scooby-Doo
há decadas fazem parte da infância de várias gerações.
Origem e História da Domesticação
As origens
do cão doméstico baseiam-se em suposições, por se tratar de ocorrências
de milhares de anos, cujos crescentes estudos mudam em ambiente e
datação dos fósseis. Uma das teorias aponta para um início anterior ao
processo de domesticação, apresentando a separação de lobo e cão há
cerca de 135.000 anos, sob a luz dos encontrados restos de canídeos com
uma morfologia próxima à do cinzento, misturados com ossadas humanas.
Outras, cujas cronologias são mais recentes, sugerem que a domesticação
em si começou há cerca de 30.000 anos, os primeiros trabalhos caninos e o
início de uma acentuada evolução entre 15.000 e 12.000, e por volta de
20% das raças encontradas atualmente, entre 10.000 e 8.000 anos no
Oriente Médio. Além das imprecisões do período, há também discordâncias
sobre a origem. Enquanto especula-se que os cães sejam descendentes de
uma outra variação canídea, as mais aceitáveis são a descendência direta
do lobo cinzento ou dos cruzamentos entre lobos e chacais.
As evidências baseiam-se também em achados arqueológicos, já que foram
encontrados cães enterrados com humanos em posições que sugerem
afetividade. Segundo estes trabalhos de pesquisa, o surgimento das
variações teria ocorrido por seleção artificial de filhotes de
lobos-cinzentos e chacais que viviam em volta dos acampamentos
pré-históricos, alimentando-se de restos de comida ou carcaças deixadas
como resíduos pelos caçadores-coletores. Os seres humanos perceberam a
existência de certos lobos que se aproximavam mais do que outros e
reconheceram certa utilidade nisso, pois eles alertavam para a presença
de animais selvagens, como outros lobos ou grandes felinos. Mais
sedentários devido ao desenvolvimento da agricultura, os seres humanos
então deram um novo passo na relação com os caninos.
Eventualmente,
alguns filhotes foram capturados e levados para os acampamentos na
tentativa de serem utilizados. Com o passar dos anos, os animais que, ao
atingirem a fase adulta, mostravam-se ferozes, não aceitando a presença
humana, eram descartados ou impedidos de se acasalar. Deste modo, ao
longo do tempo, houve uma seleção de animais dóceis, tolerantes e
obedientes aos seres humanos, aos quais era permitido o acasalamento e
que, quando adultos, eram de grande utilidade, auxiliando na caça e na
guarda. Esse gradual processo, baseado em tentativas e erros, levou
eventualmente à criação dos cães domésticos.
Foi ainda durante a Pré-História que surgiram os primeiros trabalhos
caninos e, com isso, começaram a fortalecer os laços com o ser humano.
Cães de caça e de guarda ajudavam as tribos em troca de alimento e
abrigo. Com o tempo, aperfeiçoaram o rastreio e dividiram o abate das
presas com os humanos. Por possuírem alta capacidade de adaptação,
espalharam-se ao redor do mundo, levados durante as migrações humanas e
aparecendo em antigas culturas romanas, egípcias, assírias, gaulesas e
pré-colombianas, tendo então sua história contada ao lado da do homem.
No Egito Antigo, os cães eram reverenciados como conhecedores dos
segredos do outro mundo, bem como utilizados na caça e adorados na forma
do deus Anúbis. Esta relação com os mortos teria vindo
do hábito de se alimentarem dos cadáveres, assim como os chacais. No
continente europeu, mais precisamente na Grécia Antiga, cães eram
relacionados aos deuses da cura, com templos que abrigavam dezenas deles
para que os doentes pudessem ser levados até lá e terem suas feridas
lambidas. Neste período, também combateram junto aos exércitos de
Alexandre, o Grande, espalhando-se pela Ásia e Europa. Na Gália, além de
guardiões e caçadores, detinham a honra de serem sacrificados aos
deuses e enterrados nos túmulos de seus donos. Durante o período do
Império Romano, os cães, sempre fortes e de grande porte, foram
utilizados para a diversão do público em grandes brigas no Coliseu de
Roma. Trazidos da Bretanha e da parte ocidental da Europa, eram mantidos
presos e sem alimentos, para que pudessem ficar agressivos durante os
espetáculos, nos quais deviam matar prisioneiros, escravos e cristãos.
Sua fama ficou tão grande que as raças da época quase foram extintas,
devido ao exagerado uso em guerras e apresentações.
Com o fim do Império Romano, o mundo entrou na fase da Idade Média, já
com os cães espalhados pelo continente europeu, levados pelos mercadores
fenícios do Oriente Médio à região mediterrânea e adentrado a região
seguindo soldados romanos. Foi nessa época que os caninos perderam o
relativo prestígio de antes, já que doenças como a peste negra assolavam
a Europa e eram os cães que comiam os cadáveres nas periferias das
cidades. A Igreja Católica, enquanto instituição mais influente, passou a
relacioná-los à morte e considerá-los criaturas das trevas. Sua
mentalidade supersticiosa popularizou-os como animais de bruxas,
vampiros e lobisomens. Tal influência, por incentivo da Inquisição,
resultou em matanças de lobos, cães e híbridos. Indo ainda mais além,
estipulou decretos que diziam que se qualquer preso acusado de bruxaria
fosse visitado por um cão, gato ou pássaro, seria imediatamente
considerado culpado de bruxaria e queimado na fogueira.
Apesar de toda a
perseguição, no fim deste momento, os cães já começavam a ser vistos
como companhia infantil. Durante o Renascimento, a visão negativa sobre
os cães foi desaparecendo, já que caíram no gosto dos nobres. Durante
este período, os caninos eram utilizados para a caça esportiva e criados
com cuidado dentro dos canis de cada castelo. Com as famílias livres
para desenvolverem suas próprias raças, as variedades de cada região
começaram a surgir. Estas novas raças eram consideradas tesouros não
encontrados em nenhum outro lugar do mundo, e por isso, dadas de
presente entre a nobreza, por representarem grande sinal de riqueza.
Esta atitude ajudou a difundir ainda mais a variedade e a preservar
determinadas raças, quando em seu lugar de origem acabavam exterminadas.
Adiante, também na Europa, nasceram os cães de companhia, já que o
apreço por eles crescia, conforme se via a fidelidade. Guilherme de
Orange dos Países Baixos chegou a declarar que seu cão o salvou de um
atentado. Ao mesmo tempo que a diversidade crescia no continente, tribos
siberianas usavam seus cães para praticamente tudo, já que eram
bastante fortes e úteis para locomoção e outras atividades. Estes
caninos, importados da Sibéria, ajudaram o ser humano na conquista dos
polos pelos primeiros homens a pisar no Polo Sul e Polo Norte, puxando
seus trenós.
No período das grandes navegações, os homens migraram ao Novo Mundo com
seus caninos. Apesar de não serem desconhecidos dos povos
pré-colombianos, a variedade o era. Também durante a conquista, a
presença deste animal teve sua utilidade: nas guerras contra os nativos,
farejadores eram utilizados para encontrar e matar os índios. A
respeito disso, há a lenda de que, na atual República Dominicana,
milhares de indígenas foram exterminados por uma tropa de 150 soldados
de infantaria, trinta cavaleiros e vinte cães rastreadores. Durante o
século XIX, apesar de polêmicos, os treinamentos dos caninos para lutas e
guerras, ganhou popularidade como na época de Alexandre. Nessa fase,
algumas raças foram compostas por animais menores, mais brutos e de
musculatura mais forte, como o bull terrier.
No século seguinte, eventos tornaram a marcar a evolução canina. As
guerras mundiais extinguiram as raças das regiões mais afetadas e
ajudaram a popularizar as variedades militares, como o pastor alemão e o
dobermann, enquanto rastreadores. No Japão, em plena guerra, o
imperador decretou que todos os cães que não pastores alemães fossem
mortos para a confecção de uniformes militares com seu couro. Devido a
isso, muitos criadores de akitas cruzaram seus animais com pastores
alemães, para tentar fugir ao decreto. Os resultantes destes
cruzamentos, levados aos Estados Unidos pelos soldados, foram os
primeiros na criação de mais uma nova raça. Foi também após as guerras
mundiais que surgiram os primeiros centros de treinamento de cães-guia
de cego. Modernamente, apesar de fazer parte da história humana desde a
imagem divina aos soldados das guerras, o cão tornou-se um animal de
estimação apenas no século XX, já adaptado aos modos de vida dos seres
humanos, devido a sua habilidade de fazer de diversos ambientes os
melhores possíveis, e ao voltar suas capacidades de aprendizado à
domesticação. Diz-se que esta mútua relação entre os dois mais numerosos
carnívoros do mundo deve-se à compreensão e à evolução cerebral canina
em entender o que querem as pessoas.
Características
Os Sentidos
Os cães
pertencem à família dos canídeos, da qual fazem parte também as raposas e
os lobos. Esta família de predadores possui sentidos apurados para a
captura de presas e para proteção da matilha. Apesar da domesticação e
do cruzamento seletivo, o que tornaram o cão menos dependente de seus
sentidos, estes ainda são considerados habilidades sensoriais incríveis.
Assim como em humanos e outros mamíferos, seus sentidos dividem-se em
cinco:
- Olfato:
considerado o principal sentido canino, superior a de todos os outros
animais. Tal característica marcante advém das ramificações dos nervos
olfativos na cavidade nasal, que ocupam 160 cm², enquanto no homem a
área chega a 5 cm². Em outra comparação, as células olfativas do ser
humano chegam a cinco milhões, enquanto em um cão atingem 220 milhões.
Essencialmente farejador, o nariz do cão tem um grande número de fendas
permanentes, diferentes de animal para animal, como as impressões
digitais. Por essa razão, ele pode ser usado para a identificação
individual. Os cães possuem trinta vezes mais sensores olfativos que um
ser humano. Tal capacidade apurada permite a um cão adestrado/policial,
por exemplo, localizar drogas, minas terrestres e pessoas sob escombros.
É devido a suas dobras convolutas que qualquer cheiro, por mais sutil
que seja, pode ser capturado.
- Audição: como
o olfato, é outro sentido bastante desenvolvido no canino, que,
diferente do ser humano, ouve sons de alta frequência e baixo volume.
Por meio de suas orelhas direcionáveis, característica esta comum aos
mamíferos, são capazes de localizar com precisão a direção e a origem do
som em seis centésimos de segundo. São ainda capazes de ouvir a uma
distância quatro vezes superior a do ser humano. Tais características
concedem-lhe úteis habilidades, como a capacidade de discernir com
facilidade as palavras pronunciadas por seu dono, ainda que o tom da voz
e os gestos não sejam desconsiderados.
- Visão:
a visão noturna dos cães é muito mais apurada que a dos humanos. Seu
ângulo de visão também é mais amplo, devido a posição de seus olhos,
localizados ao lado da cabeça. O cão tem visão colorida, mas só consegue
diferenciar as cores violeta, azul e verde e vê da mesma maneira o
verde, o amarelo, o laranja e o vermelho. Os cães são mais sensíveis a
luz e ao movimento, captando, com maior facilidade, algo movendo-se no
escuro. Contudo, possuem menor capacidade de foco e de diferenciar as
cores. Em igual, enxergam em três dimensões. A visão é ainda responsável
por transmitir certas marcas comportamentais desses animais. Enquanto
fitar diretamente com os olhos significa relação de entendimento e
segurança, nunca fitar significa o oposto; deslocar o olhar demonstra,
além de insegurança, o medo, ao passo que o olhar fixo mostra uma
possível vontade de atacar.
- Tato:
sentido considerado pouco desenvolvido, o tato é fundamental na relação
afetiva com outros animais. Junto ao olfato, é o primeiro sentido a
funcionar em um cachorro na percepção extrassensorial. Nos cães, as
sensações térmicas, táteis e de dor, são percebidas pelas terminações
nervosas que, densas, formam uma rede ligada à medula espinhal e ao
cérebro. Ao tato está ligada a sensibilidade do animal, que sente mais o
frio que o calor, respondendo com aceleração da respiração e a
evaporação da água através da língua. As partes responsáveis por este
sentido formam uma rede nervosa concentrada na base dos pelos, que nem
sempre apresentam a mesma sensibilidade. As vibrissas, pelos longos do
focinho, dos supercílios e do queixo, são particularmente providas de
terminações nervosas.
- Paladar:
sentido pouco desenvolvido. Em relação com o homem, possui quase nove
vezes a menos o número de papilas gustativas. Por isso, o sabor que os
cães sentem está diretamente ligado ao odor. É também por esta razão que
podem consumir diariamente o mesmo alimento.
Reprodução e Esterilização
É de muito
tempo que a reprodução canina divide-se em assistida e natural. A
primeira refere-se ao fato do homem observar sua cadela seja em um
cruzamento natural, seja em um manipulado – de fins financeiros, como
uma cria de pedigree para venda ou competições, ou ainda, para seleção
artificial de uma raça ou criação de uma nova, geralmente realizados
através de inseminações artificiais ou cruzamentos controlados. Em
relação aos animais, as fêmeas, assim como as mulheres, nascem com um
determinado número de óvulos, enquanto os machos atingem a idade sênior
de doze anos ainda férteis.
Em um cruzamento natural, assistido ou não, o processo é iniciado na
fase do cio da cadela, que dura em uma média de quinze à vinte dias,
cujo ápice da fertilidade é atingido entre o 8.º e o 11.º dias. A cópula
então começa com uma fase de farejamento. A ereção do macho é
possibilitada pela rigidez do osso peniano e pelo fluxo de sangue do
tecido erétil. Com um monte bem sucedido, desencadeia-se então as
contrações vaginais na fêmea que favorecem a ascensão dos
espermatozóides, a manutenção da ereção e o “aprisionamento” do macho
durante a ejaculação na fase prostática. Esta fase dura um mínimo de
cinco minutos, embora possa atingir trinta. Já a inseminação artificial,
sempre assistida, é feita de três diferentes formas: com sêmen fresco,
refrigerado ou congelado. Contudo, todas se caracterizam como técnicas
de reprodução impossíveis de ocorrerem sem a intervenção do ser humano,
que vão, desde o recolhimento do material do macho a sua introdução na
fêmea.
Faz parte da reprodução também a gestação, que dura em média sessenta
dias e gera um número variado de filhotes, dependendo do tamanho e do
sistema reprodutor da fêmea, bem como os cuidados com os cachorros. A
alimentação de uma cadela durante a gestação é fundamental para o
nascimento de uma cria saudável. Os cuidados alimentares devem ter
início antes mesmo do acasalamento e prosseguirem até o desmame dos
filhotes, já que ela é bastante exigida também nesta etapa. A fêmea não
deve estar gorda quando cruzar e não pode receber gorduras na
alimentação, mas ao contrário, tem bastante necessidade de proteínas,
cálcio e sais minerais. Por fim, faz-se ainda necessária atenção aos
filhotes. Nesta fase, a cadela é protetora e os amamenta por cerca de 45
dias. Aos poucos, os cachorros, que desenvolvem primeiramente o olfato e
o tato junto à mãe, abrem os olhos e as orelhas, que lhes conferem dois
sentidos bastante aguçados.
Na outra ponta da reprodução está a esterilização, chamada também de
castração, comum em animais domésticos e uma necessidade para o controle
de animais nas cidades, geralmente abandonados nas ruas. A
esterilização em si consiste na remoção cirúrgica completa dos órgãos
com funções restritivamente reprodutoras. Nas fêmeas, retira-se o útero e
os ovários, o que elimina os cios. Nos machos, retira-se os testículos,
deixando-se a bolsa escrotal vazia. O processo é classificado como
indolor, devido a anestesia, incômodo, após o procedimento, e seguro,
devido a eficácia dos resultados para o animal e para a sociedade.
Envelhecimento
O
envelhecimento canino é um processo natural ainda não totalmente
entendido, embora sabido que ocorra de modo variado, dependendo das
raças e de seu porte. Enquanto um cão de médio porte vive em torno de
doze anos, um gigante tem expectativa de vida mais curta. Antes,
acreditava-se que estes animais envelheciam sete anos para cada ano de
vida de um ser humano. No entanto, essa teoria foi revista, e mais
recentemente, tenta-se comparar o estágio de desenvolvimento inicial da
vida do cão com aquele dos seres humanos. De acordo com alguns
resultados obtidos, raças pequenas alcançam seus tamanhos finais entre
os oito e os doze meses; raças de porte médio entre doze e dezesseis
meses; de porte grande entre dezesseis e dezoito meses; e as gigantes,
por volta dos dois anos.
Com isso, foi possível traçar um paralelo que
resultou em variação de porte para porte. As raças pequenas e médias têm
os cinco primeiros anos de vida para o primeiro ano humano. Deste ponto
em diante, são quatro para cada ano vivido por um ser humano. Já as
raças grandes e gigantes, de maturidade mais lenta, envelhecem sete e
doze, respectivamente, em seu primeiro ano de vida, com cinco e sete
anos a partir do segundo ano de vida, para cada tamanho. Com base nessas
afirmações, pode-se dizer que um chiuaua nascido no mesmo dia e ano que
um homem, tenha, cinco anos mais tarde, 21.
Cães de idade avançada estão mais sujeitos a doenças, dores e alterações
comportamentais. Por isso, é importante dar atenção às mudanças da
idade de um cão doméstico, pois isso permite suprir novas necessidades e
proporciona melhores condições de vida. Entre os principais males que
podem acometer os idosos caninos estão a artrite, o mal de Alzheimer e a
depressão. Esses problemas e outros, como a queda de dentes,
decorrentes da idade, são diagnosticáveis desde o início pela observação
das mudanças comportamentais e pela realização de constante
acompanhamento veterinário. Problemas de visão e audição, quietude e
esbranquiçamento e queda do pêlo são fatores considerados normais,
causados pelo avanço da idade.
Comunicação
A forma de
comunicação mais conhecida dos cães é o latido, apesar de chorarem,
rosnarem, uivarem, cheirarem e utilizarem de sua linguagem corporal para
se fazerem entender tanto para os caninos quanto para os seres humanos.
A relação entre os cães ocorre, na grande maioria das vezes, de modo bem
diferente a dos homens. Por conta disso, muitas vezes suas atitudes não
são compreendidas, como porque se cheiram tanto, latem sem motivos,
estão brincando e de repente começam a brigar. Os cães também sentem
medo, ansiedade, interesse, alegria e outras emoções. E, por serem
animais gregários, dedicam parte do tempo em conhecer seu status dentro
da relação.
No aprendizado, cães precisam do contato com outros cães
para aprenderem sua linguagem. Durante as primeiras sete ou oito
semanas, os cachorros aprendem toda a base da comunicação com a mãe. Se
eles a machucam, ela grunhe e os afasta, e na época do desmame,
mostra-se aborrecida com o ataque às mamas, por exemplo. A partir daí, o
contato com os irmãos também é importante. Nas brincadeiras com outros
filhotes, o cachorro aprenderá como demonstrar a dor e a brigar pela
comida. De todas as formas de comunicação, a mais importante da vida do
cão, entre os cães, é a corporal. Através da leitura da posição das
orelhas, da cauda, dos olhos e do corpo em geral, os cães poderão
identificar o estado de outro animal, como a aceitação das brincadeiras
ou da dominância. O odor, também de animal para animal, é importante na
comunicação para a identificação única de cada indivíduo. É através do
cheiro que ainda identificam quando uma cadela está no cio ou a mensagem
da urina em determinado local demarcado.
Pelo ser humano comunicar-se verbalmente, acredita que esta seja a
principal forma de comunicação canina. O latido, em geral, significa um
pedido de atenção quando carentes, entediados, excitados ou sozinhos, e
um alerta de perigo. Entre homem e animal, além do latido, outra forma
de comunicação é o choro. Chorando, os cachorros percebem desde cedo que
tanto a mãe quanto os donos lhe atendem e passam a usar disso como meio
de obter atenção. Além disso, o choramingo demonstra susto com barulhos
altos, como trovões. O rosnado por sua vez, é o som mais simples de se
entender, tanto para os caninos, quanto para os humanos, pois significa
ataque caso não haja o recuo do outro diante da posse, demarcação ou
proteção. Por ser um sinal de agressividade, não costuma ser ignorado.
Por fim, o uivo é um som familiar e único, que demonstra também
excitação, o alerta, a solidão e o desejo. É usado quando caçam e
encurralam suas presas ou só para ver se alguém aparece. Em um paralelo,
o uivo é tão contagiante quanto o bocejo humano: quando um começa e
outro ouve, o faz. No relacionamento homem e animal, seus meios de
comunicação causam problemas que geram determinadas soluções apenas para
o ser humano. Entre as mais eficientes e definitivas estão o uso de
coleiras anti-latidos, que associam o ato de latir com algo negativo,
como jatos de citronela no focinho, e as operações que retiram as cordas
vocais.
Relacionamento com o Homem
O processo
de domesticação fez com que os cães se adaptassem aos homens em todos os
sentidos. Desse modo, estes animais adquiriram riqueza fônica superior à
do lobo, alimentam-se das mesmas coisas e mudaram sua morfologia para
acompanhá-los ao longo do tempo. No entanto, neste relacionamento
perfeito, um detalhe precisa estar todo o tempo estabelecido: a
hierarquia. Assim, fica claro ao cão que o homem é o dominante do líder
canino da matilha, tornando tal estabelecimento possível devido a sua
superior inteligência quantitativa. Deste ponto, é dever do ser humano,
como líder, premiar boas condutas, castigar a desobediência, administrar
os recursos essenciais e não usar de brutalidade. Isso dá ao cão a
proteção e a certeza de que todas as suas necessidades serão
satisfeitas, e acima disso, uma boa relação de convivência.
Essa
convivência explica que, ao longo dos tempos de mutualidade, foi
possível obter-se um êxito tão grande no relacionamento entre duas
espécies distintas, só comparadas com aquelas que precisam umas das
outras para sobreviverem. Segundo estudos realizados na Universidade de
Viena, a adaptação dos cães é devida ao fato de terem desenvolvido a
habilidade de aprendizado por imitação. Habilidade esta que evoluíram e
continuam a utilizar para evitar o aprendizado por tentativa e erro,
considerado, na prática, mais arriscado. A pesquisa, que afirma esta ser
uma característica comum em outros grupos animais, destaca a diferença
canina no fato de terem crescido e se desenvolvido no meio humano ao
longo dos anos. É inquestionável, portanto, e pode-se afirmar com
segurança que a adaptação foi feita do cão ao homem e não em sentido
contrário.
Em termos práticos, o cão obtém dessa relação uma melhora em sua atitude
quanto à sobrevivência, já que tem comida em abundância, evita a
depredação e otimiza a qualidade reprodutiva e também quanto à atitude
social, pois se integra em uma mais ampla. Já o homem é ainda mais
favorecido, pois melhora a segurança de seu grupo, as necessidades
gregárias e por vezes as físicas e psicológicas.
Reconhecida e inegavelmente uma espécie domesticada, algumas raças de
cães possuem características específicas que os fazem se destacar em
algumas tarefas. Para desenvolver mais estas peculiaridades os cães
normalmente são adestrados para obedecerem ao dono e para reagir
corretamente a determinadas situações. Tal estrutura, elaborada pelo ser
humano ao longo de seu convívio e interação com os caninos, só é
possível devido ao comportamento do cão em relação ao homem e gerou
certa variedade de classificação de suas raças, todas admitidas pelo
órgão oficial máximo. Todavia, em toda classificação são postas as
informações standard, que mostram o nome de origem do cão, seu padrão e
suas eventuais variedades, bem como características comportamentais, de
caráter, educação e utilização.
Em suma, o standard é obtido através dos
estudos da cinologia e apresenta a origem da raça e suas diferentes
variedades admitidas, a aparência geral e o aspecto que deve ter sua
estrutura externa: a cabeça, o pescoço, o corpo, os membros e a cauda.
Como última característica, o standard evolui com o passar dos anos,
estabelecendo padrões que se modificam de acordo com a evolução de cada
raça seguindo os processos naturais e artificiais de reprodução.
Existem ainda os caninos com funções específicas, sem distinção e
limitações de raças, com certas preferências de acordo com as aptidões
de cada categoria, como por exemplo, os cães-guia de cegos, adestrados
para guiar deficientes visuais totais ou parciais, e auxiliá-los nas
tarefas caseiras e nas ruas e os cães ouvintes, selecionados e treinados
para ajudarem os surdos ou deficientes auditivos, alertando-os para
sons importantes dentro de casa, como campainhas e alarmes de incêndio,
bem como fora, chamando a atenção para sons como das sirenes,
empilhadoras, aproximação de pessoas e o chamamento do nome do
manipulador.
De todos os
animais que conhecemos, o cão é o que mais uniu a nós. Para o cão o
tempo parou. A sua alma, incólume ao século nervoso das bombas atômicas e
viagens interplanetárias, não conhece nem malícia nem falsidade. Com a
mesma alegria natural, ele nos acompanha na chuva torrencial e no forte
calor: sempre o amigo mais fiel do homem.
Théo Gygas, em “O cão em Nossa Casa”
Além destas
várias funções, em geral desenvolvidas e utilizadas em conjunto com o
ser humano, há ainda a provável mais antiga relação de afeição mútua,
que transformou o cão no “melhor amigo do homem”. Tal afirmação, apesar
de considerada por muitos apenas uma crença popular, possui um início.
Esta frase foi pronunciada pela primeira vez pelo advogado George Graham
Vest, em um tribunal dos Estados Unidos, já que seu cliente, Charles
Burden, dono de um galgo chamado Old Drum, descobriu que seu vizinho o
havia assassinado sem motivo aparente e decidiu denunciar o fato. No
julgamento, Graham então discursou:
Cavalheiros
do júri: O melhor amigo que um homem possa ter, poderá se voltar contra
ele e se converter em seu inimigo. Seu próprio filho ou filha, a quem
criou com amor e dedicação infinita, podem demonstrar ingratidão.
Aqueles que estão bem próximos de nosso coração, aqueles a quem
confiamos nossa felicidade e bom nome, podem se converter em traidores.
Neste
relacionamento homem e animal, o cão não se importa se seu dono reside
em uma mansão ou na rua, qual a sua religião ou a cor de sua pele.
Vasilhas com água limpa e comida, cuidado, carinho e respeito são o
suficiente para conquistar a confiança dele, que por isso, recebeu o
título de melhor amigo do homem, antes mesmo da frase ser dita pela
primeira vez. Em retribuição aos cuidados, o canino está sempre disposto
a acompanhar o humano, não difama ninguém e não se importa com a
aparência dos outros. Por vezes, a ligação é tão forte, que se o dono
adoece, o cão fica ao pé da cama lhe esperando levantar. Um dos exemplos
dessa forte ligação foi a menina ucraniana Oxana Malaya, a chamada
garota-cachorro.
Cuidada e criada por cães, adaptou-se ao ambiente no
quintal de casa e viveu cinco anos como membro da matilha. Por estas
razões, é tido como integrante da família por muitas pessoas e, por suas
habilidades adquiridas, é um grande ajudante nas mais variadas tarefas.
Por outro lado, há a desconfiança de que o cão não seja um animal de
estimação, mas sim um evoluído parasita. Tal afirmação advém do fato do
canino se adaptar completamente para satisfazer a necessidade biológica
que o ser humano tem de cuidar de outro ser dependente e o tornar
familiar, como também estar sempre perto quando o homem se sente só,
aflito ou inseguro, e por, aparentemente estar no controle, pois o homem
lhe dá comida quando sente fome, o leva ao veterinário quando está
doente e lhe dá atenção quando pede.
Cães na Cultura Humana
É de tempos
que o cão se relaciona com o homem. Através deste convívio, observam-se
momentos positivos e negativos. Na cultura, povoa a realidade com
heróis, companheiros de passatempo e de trabalho, os sonhos e como úteis
cobaias; na Mitologia, o canino também está presente, desde a ocidental
à oriental; e, na ficção, figura em filmes, desenhos animados, seriados
de televisão, livros e revistas:
Na Filosofia
De entre os
discípulos de Sócrates uma corrente de pensamento passou à história com o
nome de cinismo, que deriva do Ginásio Cinosargos, onde pregara
Antístenes de Atenas ou, segundo outros autores, da palavra em grego
para cão (Kynos), que seria o animal que seus adeptos tinham por exemplo
como forma de vida ideal – na busca pela felicidade o homem só a obtém
pela vida simples, com desprezo pelas riquezas e prazeres. O cínico mais
notável foi Diógenes de Sínope que, além da corrente filosófica de nome
“canino” também se identificava com o cão: conta-se que ele, morando
num tonel, foi saudado por Alexandre Magno; este apresentou-se como um
rei de quem as pessoas imputavam certa fama. Diógenes respondera-lhe ser
“um cão, de quem dizem alguma coisa”; questionado pelo imperador por
que dava-se um nome tão “baixo”, este respondera ser “porque eu adulo os
que me dão, ladro contra os que me recusam e mordo os maus”.
Na Produção Artística e na Sociedade
Enquanto
presença na sociedade humana, uma das primeiras aparições do cão como
parte da produção cultural foi nas belas artes, figurando das pinturas
às esculturas antigas. Na Pré-História, cerca de 4500 a.C, surgiram as
primeiras pinturas rupestres com os cães de caça, cujas aparências não
se assemelhavam a nenhuma raça atual. Contudo, no Egito Antigo, a
semelhança pôde ser percebida em algumas ilustrações. No Ocidente,
durante o período do Império Romano, o canino figurou na cultura e foi
retratado na produção artística como o guardião do lar, feroz e dedicado
ao dono. Já na Idade Média, regrediu à Pré-história e passou a ser
fundamentalmente um cão de caça, voltando a estar quase ausente de todas
as manifestações pictóricas, provavelmente em virtude da má imagem que
os artistas tinham nessa época de bichos vadios, agressivos, perigosos e
esfomeados, que alimentavam-se de cadáveres. Por esta razão, figuravam
apenas em pinturas de suas matilhas caçadoras.
Foi no Renascimento que a imagem do canino se humanizou, pois surgiu
neste período o cão de companhia. Estes eram pintados em quadros ao lado
de suas donas, apresentando-se menores que os anteriores caçadores. Foi
durante o século XVI que foram representados em abundância nas artes.
No século seguinte, o cão ganhou quadros para si, assumindo o papel
principal da reprodução artística. Foi nesse período que surgiram os
artistas especializados em retratar animais, como o francês François
Desportes, e as pinturas realistas, tanto da anatomia, quanto das
expressões. Pouco mais de cem anos adiante, os cães ganharam imagens
quase sentimentais nas pinturas, conquistando espaço como símbolo de
admiração e inspiração. Todavia, foi apenas no século XX que atingiu sua
plenitude como animal de companhia, figurando em pinturas sendo
acariciados por suas donas em passeios de gôndola ou sobre almofadas de
seda.
Na produção de esculturas, a presença canina também foi grande. Começou
ainda na Pré-História, representados em potes de barro, nos quais
apareciam animais com abdómens exagerados e patas curtas. Adiante, na
produção pré-colombiana, passaram a ter os traços da divindade à qual se
encontravam associados, dando à produção escultural a expressão do
mundo espiritual e místico. No Egito, o cão representava a figura do
Deus Anubis, além de aparecer em obras de calcário e em baixo relevo,
quando esculpidas as matilhas. Na Ásia, foi também esculpida a divindade
do cão-leão, que figura em entradas de templos. Apesar de presente em
esculturas de distintas culturas, somente na produção assíria o ato de
esculpir os cães ganhou qualidade. Eram desenhados a sós ou em grupos,
mas sempre com sutileza de traços. Nas antigas Roma e Grécia, estes
traços foram aperfeiçoados para proporcionar um realismo quase perfeito,
ainda que não tivessem grande valor sócio-cultural. Na Idade Média
nasceram as representações imaginárias, nas quais os caninos figuravam
nas casas como simples adornos. Mais tarde, apesar da forte presença na
pintura renascentista, pouco apareceu na escultura da época, já que o
cavalo era o foco principal dos artistas. Do século XVII em diante, o
cão continuo a ser objeto escultural, agora mais para pesquisa que pela
arte em si, que ficou a cargo dos artistas de animais.
Além da produção artística, o cão figura modernamente na sociedade nos
mais diferentes níveis, desde cão de companhia de um presidente da
república a cão de agility e exposição. Nesse esporte, praticado em
dupla, há a interação cão e dono, em uma atividade que trabalha a
atenção, a força e a agilidade canina, além da liderança do homem.
Nascido em 1978, na Inglaterra, foi considerado esporte de
entretenimento, como a exposição canina de estrutura e beleza. É nela
que se estabelecem a qualificação e a classificação seletivas de
exemplares que tenham potencial para aprimorar a criação de cães.
Diferente do que se pensa, a classificação geral é feita entre os
caninos presentes, ao passo que a qualificação, tida como mais
importante, pois concede estatuto de acordo com suas virtudes e suas
faltas, é feita para garantir a pureza de uma determinada raça.
Não relacionado diretamente com o animal, o cão continua no meio
esportivo como mascote de times e de eventos mundiais, como a Copa do
Mundo de Futebol de 1994, realizada nos Estados Unidos. O apreço pelos
cães os tornam de mascotes esportivos a mascotes do dia a dia, como um
SRD adotado em um cemitério brasileiro. Tão presente positivamente na
cultura humana, povoa seus sonhos de forma negativa. Os variados
significados de sonhar com o cão não trazem boa sorte, pois podem
representar traição, fraude, surpresas ruins, intrigas familiares e
reflexos negativos de personalidade. Na metafísica, são os guardiões do
mundo subterrâneo. Podem também representar a parte mais animal da
natureza humana, e muitos o vêem como a energia masculina em sua melhor
expressão.
No âmbito científico, há o uso de animais para experimentação de
produtos ou aperfeiçoamento das raças, os chamados cobaias, e para
pesquisa genética. Em todos estes usos, há leis que proíbem os maus
tratos e asseguram o melhor ambiente possível. Essas pesquisas genéticas
são baseadas no fato de homem e cão partilharem determinadas doenças de
mesma base genética, podendo então contribuir com informações sobre a
patogenia de enfermidades como câncer, epilepsia, diabetes e problemas
cardiovasculares. Sem correr o risco dos maus-tratos, os cães também
estão presentes na área tecnológica, mas como robôs.
Em uma pesquisa
realizada no Japão, a maioria dos entrevistados disse preferir a
companhia de um animal a de um ser humano. Daí então nasceu o conceito
do cão-robótico para entretenimento. Como um exemplo está Aibo, da Sony,
com vários recursos de inteligência artificial embutidos, que lhe dão a
capacidade de aprender através da técnica de tentativa e erro e assim
descobrir o que pode ou não fazer. Existe também uma nova versão desse
robô, com capacidade de achar a tomada para recarregar suas baterias e
reconhecer a voz e o rosto de seu dono. O Aibo pode ainda ter sua
personalidade controlada por computador e ser manipulado por e-mail.
Socializando, pode-se ver um time de futebol formado por vários desses
robôs com aspectos de brinquedo: eles fazem gol e comemoram colocando as
patas dianteiras para cima.
Além dessas, há outra utilidade apreciada pelos homens: o cão enquanto
iguaria culinária. Animal de estimação e de imagem demasiada humana em
várias culturas, em algumas é visto como alimento. Na Coreia do Sul, a
carne de cachorro é um prato tradicional, chamado boshintang, para ser
consumido na busca da boa saúde durante os conhecidos três “dias do
cachorro”. No entanto, essa oriental tradição é frequentemente rejeitada
pelos jovens sul-coreanos, devido à ocidentalização do pensamento de
que o cão é um companheiro e não uma refeição. Na China, outro país
oriental, há também o consumo de cachorro, mas como um prato exótico,
devido a sua extrema variedade e fartura. Com mais de três mil anos de
existência, a culinária deste país varia muito devido à adaptação das
pessoas às regiões remotas, que aproveitam da natureza o que ela oferece
para sobreviver. Apesar disso, o governo chinês rascunhou uma lei que
proíbe o consumo de determinados animais, entre eles o cão. No
relacionamento homem e canino, ao longo da história da Humanidade,
muitos cães vieram a ter destaque por ações heroicas, puro
companheirismo, e até mesmo pioneirismo, conquistando com isso, certa
fama e reconhecimento humano. Entre os maiores exemplos está Balto, um
mestiço de husky siberiano e lobo-cinzento, que foi herói no estado
norte-americano do Alasca em 1925.
Sua história, na qual salva vidas da
difteria após percorrer uma enorme distância em plena nevasca para
buscar remédios, é contada em filme, no qual é dublado pelo ator Kevin
Bacon. Outro herói canino é Barry, um são-bernardo que salvou entre
quarenta e cem pessoas perdidas na neve dos Alpes suíços durante 14
anos. Seu corpo está preservado no Museu de História Natural de Berna.
Já Laika foi uma vira-lata do programa espacial soviético e o primeiro
ser vivo a entrar em órbita espacial, feito este a bordo da Sputnik II.
Assim como a cadela, Snuppy foi um outro pioneiro, desta vez no campo da
ciência, ao tornar-se o primeiro cão clonado do mundo. Da raça galgo
afegão, nasceu em 2005, após experimentos realizados pelos sul-coreanos e
tornou-se notícia no mundo todo. Entre os maiores exemplos de
companheirismo documentados está o caso do akita japonês Hachiko, cuja
história deu origem ao filme Sempre ao seu lado protagonizado pelo ator
Richard Gere. Este cão nasceu no início da década de 1920, no Japão, e
vivia com o professor universitário Hidesaburo Ueno em Tóquio, onde o
acompanhava de casa até a estação de trem de Shibuya.
Em 1924, o
professor faleceu e Hachi foi doado a outra família. Apesar disso, o cão
sempre voltava à estação para esperar pelo antigo dono, repetindo o ato
por dez anos até falecer em 1935, tornando-se uma lenda japonesa com
direito a três estátuas de bronze, um filme nacional rodado em 1987 e um
livro infantil. No Ocidente, Greyfriars Bobby, um skye terrier que
viveu na Escócia, ficou conhecido por ter guardado o túmulo de seu dono
por 14 anos, até falecer em 14 de janeiro de 1872. Um ano após sua
morte, Lady Burdett-Coutts mandou erguer uma fonte e uma estátua em sua
homenagem. Filmes e livros também foram baseados na vida deste cão,
incluído um produzio pela Walt Disney Productions.
O Cão no Folclore Lusófono: Expressões, Crendices e Agouros
Ao contrário
de Portugal, onde o cão dispõe de uma imagem de fidelidade e devoção,
no Brasil há uma associação de sinonímia com o diabo e a palavra cão –
ao passo que cachorro se usa em camada socialmente superior.
Na tradição clássica lusa quem mata um cão deve uma alma a São Lázaro.
No sinete do Santo Ofício está a figura de um cão. Graças aos muçulmanos
a visão sobre eles na África ganhou sentido pejorativo, como em Angola,
onde a literatura oral banta figura-os como símbolos de covardia,
sordidez e servilismo. Como nos Açores se chama ao demônio de cão negro e
cão tinhoso, aventa-se que a associação no Brasil tenha vindo com os
colonos açorianos, sobretudo no século XVIII.
Na Roma Antiga acreditava-se que os cães viam os espíritos; quando isto
ocorre na crendice brasileira, diz-se o esconjuro: “Todo o agouro para o
teu couro”. Acredita-se que quando uiva está a chamar desgraça para o
dono, repetindo-se o mesmo agouro anterior, ou vira-se um sapato com a
palmilha para o alto, fazendo assim o animal se calar. Quando o cachorro
cavar a terra com o focinho para a rua, ou cava à entrada da casa
acredita-se que cava a sepultura do dono; já se cava a terra com o
focinho voltado para a casa é sinal de dinheiro. É sinal de azar o cão
dormir com a barriga para cima, ao passo que se urinar na porta é boa
sorte. Dentre as inúmeras crendices há também o cão dito “pesunho” – que
possui uma unha a mais – que se crê capaz de ver e perseguir
lobisomens.
Cão e Gato
Faz parte do
imaginário humano a premissa de que o cão e o gato são inimigos
naturais, bem como o felino é do rato. Frases do tipo “parecem cão e
gato” reforçam a ideia de que os dois não se toleram. É sabido que estes
mamíferos, apesar de domesticados e sob o apreço do homem, possuem
hábitos totalmente diferentes, o que não é sinônimo de inimizade. O cão,
mais sociável que o gato, devido a sua relação de dependência, pode sim
viver com um gato sob o mesmo teto.
Essa afirmação popular pode ter surgido por disputas territoriais
ocorridas diante dos olhos das pessoas. Quando um outro animal é
introduzido no ambiente, o cão sente-se o protegendo do invasor. Isso
pode acontecer com qualquer bicho, mas tornou-se mais comum entre cães e
gatos por ambos serem espécies domesticadas e do agrado do ser humano. O
cão vê o novo morador como ameaça, rosna para ele e o gato responde
igualmente com o seu tipo de rosnado, o que significa uma agressão para o
canídeo, que começa a persegui-lo.
Rápido, o felino é um estímulo ao
instinto caçador do cão, que não para de correr atrás. Ao que o gato
cessa a correria, o cão desiste, pois a diversão acabou. Essas
perseguições renderam filmes e personagens animados, como o buldogue
Spike, o cão que persegue o gato Tom, e o longa Como cães e gatos, que
mostram estes mamíferos como inimigos e provocadores mútuos. Na outra
ponta, quando estes casos ocorrem entre dois caninos, o ser humano vê
apenas como ciúme e não os iguala.
Na Mitologia e na Religião
Da mitologia
ocidental à oriental, o cão figura como fera e como divindade. Uma das
mais famosas imagens ocidentais é a de Cérbero: besta presente na
mitologia greco-romana, é o filho de Tifão e Equidna, inimigo de Zeus,
era irmão do cão bicéfalo Ortros e da Hidra, a serpente de sete cabeças.
De sua união com Quimera nasceram o Leão de Nemeia e a Esfinge. Cérbero
vivia na entrada do reino do deus Hades e costumava latir muito. Para
aplacar sua ira, os mortos lhe davam um bolo feito de farinha e mel,
presente que seus parentes deixavam nos túmulos. Apesar da conhecida
lenda, sua morfologia no entanto, sofre com discrepâncias quanto ao
número de cabeças, ainda que a versão mais aceita seja com três. Sua
cauda também é atribuída de várias formas, como de escorpião, de cão ou
de cabeça de serpente.
Outro conhecido cão mitológico da Grécia, é
Argos, cujo dono era Odisseu. Na Odisseia de Homero, foi Argos o único a
reconhecer o herói quando este retornou para casa, morrendo logo depois
disso. Outros cães presentes na mitologia grega são Argyreos e
Chryseos, feitos de prata e ouro respectivamente, confeccionados pelo
deus Hefestos; Ortros era o cão companheiro de Gerião, conhecido por ter
sido morto por Hércules. Ainda no ocidente, o canino também figurou nas
mitologias nórdica, com os Kenning, as conhecidas montarias das
valquírias; germânica, com Barghest, lobo domesticado pelos goblins;
celta, com Failinis da lenda dos ‘argonautas’ gaélicos, e Bran, o cão de
Finn; e egípcia, com Anúbis.
No lado oriental da mitologia, este animal aparece como Tien-koan, o cão
celestial chinês; e como Hōkō, a besta de cinco caudas da mitologia
japonesa. Como híbrido, o cão também figura, mas na mitologia do Antigo
Egito, como um cinocéfalo, macaco com cabeça de canídeo. Os cinocéfalos
chegaram à Idade Média, sendo populares as lendas como a de São
Cristóvão com a cabeça de cão.
Nas religiões o cão também possui o seu papel. Para os judeus, apesar de
considerados impuros por se alimentares de restos, fosse de cadáveres,
fosse de lixo, também eram vistos positivamente, devido a palavra do
Talmude. Este afirma que os cães devem ser tolerados e que o acesso ao
alimento ritualmente impuro foi a recompensa concedida por Deus aos
cães, retribuindo o silêncio destes na noite em que os israelitas
começaram o êxodo do Egito, além de um cão ter sido dado por Deus a Caim
como sinal de proteção. No Catolicismo, apesar do início preconceituoso
da Idade Média, a imagem dos cães passou a ser positiva desde a
narrativa do nascimento de Jesus, no qual figuraram como cães de
pastoreio, até a história do cão Giggio, sempre defendendo São João
Bosco. Para a religião islâmica, os cães, antes vistos como párias e com
o decreto de Maomé para seu extermínio, continuam vistos como animais a
serem evitados e eliminados, mas agora apenas quando vadios e
disseminadores de doenças, já que possuem utilidade ao ser humano quando
em atividades como pastoreio, caça e guarda.
Na Ficção
A ficção
produziu inúmeros cães, que aparecem da literatura ao cinema, seja em
filmes ou desenhos animados, passando pela banda desenhada. Entre os
mais famosos é possível citar alguns que marcaram gerações, seja apenas
em países ou pelo mundo.
Criação dos estúdios Disney, os 101 Dálmatas foram um desenho animado
rodado pela primeira vez em 1961, que viraram filme 35 anos mais tarde,
com direito a uma continuação chamada 102 Dálmatas. Além, viraram jogos
de videogame, pelúcias, roupas e acessórios. Também criação deste
estúdio é o cão Pluto, da raça bloodhound, companheiro do rato Mickey.
Criado em 1950, sua personalidade quase humana o destacou pelo mundo. Em
1941, o desenho Me dê uma pata, protagonizado pelo canino, conquistou o
Óscar de melhor curta-metragem de animação. Assim como os dálmatas,
Pluto também é estampado em diversos produtos, bem como outro famoso cão
da vida do rato norte-americano: Pateta, cuja primeira aparição em
desenho animado deu-se em 1932. Destacado também pela Disney foi Banzé, o
filhote de A Dama e o Vagabundo, filme também destacado pelo estúdio e
por apresentar o romance entre dois caninos de mundo tão distintos,
exibido no ano de 1955.
Nos desenhos animados, Scooby-doo, o dinamarquês criado no ano de 1969
por Iwao Takamoto, e Snoopy, cão da raça beagle, personagem da história
em quadrinhos Peanuts criado por Charles Schulz, destacaram-se por
permanecerem em exibição nas televisões ao redor do mundo, e por
figurarem em diversos produtos e também bandas desenhadas. Scooby
inclusive foi às telas do cinema com dois filmes. Especificamente nos
quadrinhos, Bidu, cão azul da raça schnauzer criado pelo brasileiro
Maurício de Sousa, e Ideiafix, minúsculo companheiro do Obelix, também
destacaram-se como seres fictícios.
Já no cinema e na literatura, destacam-se Lassie, cadela que deu nome à
série e ao famoso filme rodado ao lado de Elizabeth Taylor; Rin-tin-tin,
astro de quase trinta filmes, detentor de uma estrela na Calçada da
Fama e um dos primeiros cães do mundo a se tornarem celebridade; e
Marley, um canino real que marcou a vida de uma família e saiu do livro
escrito e vivido por John Grogan, para as telas do cimena em Marley e
Eu. Publicação e película contaram a história do pior cão do mundo com o
maior coração de todos. Existem ainda vários cães que aparecem em
diversos filmes, desenhos e tiras de jornais, como o companheiro Odie de
Garfield, que fazem parte de famílias, são amigos, falantes ou
comunicativos, guerreiros ou trapaceiros, que sempre povoam a imaginação
do ser humano.
Curiosidades
Passe Espiritual Para Animais de Estimação
O templo de
umbanda Cacique Thunan, localizado no Parque das Nações, em Bauru,
inicia um atendimento diferenciado no próximo dia 6 de março. A partir
dessa data, todo primeiro sábado do mês o templo realizará passes
espirituais em cães e gatos de estimação.
De acordo com o dirigente espiritual e sacerdote do templo, Pai Ricardo
Barreira, os animais são sensíveis e absorvem energias presentes nos
ambientes e provenientes de seus proprietários, o que é capaz de lhes
causar prejuízos à saúde e mudanças comportamentais. “Os animais são
muito sensíveis a energias. Muitas vezes, quando o dono não está com uma
energia boa, os bichos acabam ‘pegando para eles’ essa energia e sofrem
alguns males. E no caso de uma energia mais densa ou que se prolonga
por muito tempo, isso pode causar um mal físico, manifestando-se
biologicamente”, afirma.
Nessa situação, Barreira apresenta o passe
espiritual como medida para aliviar possíveis energias que estejam
prejudicando os animais de estimação, funcionando como um tratamento
espiritual. “Através do atendimento espiritual, buscamos proporcionar
mais conforto e condições emocionais para os animais. Geralmente
constatamos que, quando a energia da casa e das pessoas é melhorada, os
bichos de estimação acompanham a melhora”, garante o dirigente
espiritual e sacerdote que também é presidente da Federação de Umbanda e
Candomblé do Estado de São Paulo “Reino de Oxalá”
.
Frequentadora do templo do Pai Ricardo Barreira, Renata Ferreira de Lima
realizou uma limpeza espiritual em sua casa e notou uma melhora de
comportamento em sua cadela Angel. “A Angel não comia e parecia que
estava com depressão, mas depois que o Ricardo (Barreira) foi em casa e
realizou um passe para a limpeza espiritual, ela melhorou. Ficou
parecendo que tem um ano de idade, totalmente feliz e brincando demais”,
relata sobre a cadela que tem oito anos.
Ricardo Barreira afirma que a intenção do templo de umbanda é somar
esforços na recuperação física ou comportamental de cães e gatos. “Temos
um regulamento que instrui as pessoas para que os trabalhos saiam em
harmonia com os animais. Entre os itens, o proprietário tem inclusive
que assinar uma declaração na qual afirma estar ciente que o tratamento
espiritual não dispensa o tratamento veterinário”, cita o dirigente
espiritual e sacerdote de umbanda. “Não queremos que nenhum animal sofra
por falta de atendimento veterinário”, garante.
Questionado sobre a expectativa da recepção do público bauruense,
Ricardo Barreira disse saber o impacto que isso pode causar mas que,
devido ao atual movimento de preservação do meio ambiente e proteção de
animais, as pessoas devem entender a intenção deste atendimento
especial. “Obviamente que tudo o que é novidade causa estranheza entre
as pessoas, mas no tempo em que vivemos, de consciência sobre a
preservação do meio ambiente e dos animais, as pessoas devem olhar com
bons olhos. Temos que lembrar que natureza não se trata apenas de matas e
rios, mas também de animais, e que a harmonia entre tudo isso é
essencial no mundo atual”, esclarece o dirigente espiritual e sacerdote
do templo de umbanda.
Publicado por: Monica Molina/Fonte:http://vidaespiritualidade.wordpress.com