Muito embora não seja onde em dia tão
difundido, o culto aos animais espalhava-se outrora pelo mundo. Mesmo os
deuses que não possuíam forma animal tinham um animal sagrado a eles
dedicado, que os simbolizava. Entre estes animais, o gato foi um dos mais
adorados, tanto por sua fecundidade quanto por seus hábitos noturnos, que
o tornaram o guardião da noite, dos mortos, e dos mistérios da vida e da
morte.
O Culto Egípcio
No Egito dos faraós, o gato era adorado na
figura da deusa Bastet, representada comumente com corpo de mulher e
cabeça de gata. Esta bela deusa era o símbolo da luz, do calor e da
energia. Era também o símbolo da lua, e acreditava-se que tinha o poder de
fertilizar a terra e os homens, curar doenças e conduzir as almas dos
mortos. Nesta época, os gatos eram considerados guardiões do outro mundo,
e eram comuns em muitos amuletos.
O Gato na Grécia
Na Grécia clássica, o gato foi associado à
feminilidade, ao amor e ao prazer sexual, atributos de Afrodite. Também
foi associado à Artemis, a deusa da caça e da lua, da qual se dizia que
teria escapado um perseguidor, Tiphon, transformada em gata.
O Culto em Roma
No Império Romano, o gato esteve ligado a
várias deusas. Diana, a caçadora, governava a fecundidade e a lua, assim
como Bastet, e uma lenda antiga atribui a ela a criação do gato. Também a
sensual Vênus é representada como uma gata, uma encarnação de emoções
maternas.
O Gato na Babilônia
Apesar de não haver culto ao gato, dizia um
mito que o gato teria nascido do espirro de um leão. O leão, aliás, era um
símbolo da realeza.
O Gato na América Pré-Colombiana
Na América, embora não houvessem gatos
domésticos, os grandes felinos, como o puma e o jaguar, tiveram seu lugar
no panteão dos deuses. O jaguar era símbolo de grande força e sabedoria, e
acreditava-se que os curandeiros mortos transformassem-se neste animal.
O Culto Celta
Na cultura celta, a deusa Cerridwen tem um
elo de ligação com o culto ao gato relativo à fecundidade através de seu
filho Taliesin, que em uma de suas encarnações foi descrito como um gato
com a cabeça sarapintada.
O Culto Escandinavo
Nas lendas nórdicas, aparece a deusa do
submundo Freya, cuja carruagem era puxada por dois gatos, que
representavam as qualidades da deusa, a fecundidade e a ferocidade. Estes
gatos mostravam bem as facetas do gato doméstico, ao mesmo tempo afetuoso
e terno, e feroz quando excitado. Os templos pagãos eram freqüentemente
adornados com imagens de gatos. Na Finlândia, havia a crença em um trenó
puxado por gatos que levava as almas dos mortos.
O Gato no Islã
Há uma série de contos associando os gatos ao
profeta Maomé, a quem teriam inclusive salvo da morte, ao matar uma
serpente que o atacava. Por causa desta associação entre o gato e o Islã,
a Igreja Católica conseguiu tanto êxito ao relacionar o culto ao gato com
as heresias e o demônio.
O Gato no Budismo
Nos cânones originais do budismo, o gato é
excluído da lista de animais protegidos, devido ao fato de que, no momento
da morte de Buda, quando todos os animais se reuniram para chorar seus
restos, o gato haver não só mantido os olhos secos como comido
tranqüilamente um rato, provando sua falta de respeito pelo acontecimento
solene. Entretanto, apesar da lenda, o gato foi venerado pelos primeiros
budistas por seu autodomínio e a tendência à meditação.
Na China,
estatuetas de gatos eram usadas para expulsar os maus espíritos, e havia
dois tipos de gatos, os bons e os maus, que eram facilmente diferenciados
por que os maus tinham duas caudas. No Japão, quando um gato morria, era
enterrado no templo do dono, e no altar do mesmo era oferecido um gato
semelhante, pintado ou esculpido, para garantir ao dono tranqüilidade e
boa sorte durante sua vida.
O Gato e o Judaísmo
No Talmude, o gato só aparece cerca de 500
d.C., quando o livro sagrado louva brevemente seu asseio. Entretanto, uma
antiga lenda hebraica conta que o gato teria sido criado em plena Arca,
quando Noé, em desespero por que os ratos estavam se multiplicando e
devorando todas as provisões, implorou à Deus que lhe enviasse uma
solução. O gato então teria sido criado de um sopro do leão. Outra antiga
lenda judaico-espanhola diz que Lilith, a primeira mulher de Adão, o teria
deixado para se transformar em um vampiro, que sob o aspecto de um gato
preto, atacava bebês adormecidos e indefesos e lhes sugava o sangue.
O Gato e o Cristianismo
A Igreja , no início de sua história, adotou
alguns símbolos pagãos e rejeitou outros. Assim, Jesus se tornou "o Leão
de Judá", e a serpente a égide do mal. Na seita dos coptas, surgida por
volta do século I d.C., havia no evangelho gatos que julgavam os homens
após a morte. A primitiva Igreja celta associou vários santos às tradições
pagãs e ao culto ao gato. Santa Gertrudes de Nivelles, por exemplo, é
representada sempre com um gato, e, na França, dizia-se que Santa Ágata
transformava-se em um gato enfurecido para punir os infiéis. Na Idade
Média, entretanto, a imagem do gato começou a mudar.
No século V, os
gnósticos, que atribuíam igual importância a Jesus, Buda e Zoroastro,
foram acusados de adorar o demônio na figura de um gato preto. No ano de
1232, o papa Gregório IX funda a Santa Inquisição, com o intuito de
descobrir heréticos que cultuavam o demônio, novamente na figura de um
gato preto, macho. Em 1344, surge na França, o culto de São Vito, em Metz,
queimando vivos anualmente 13 gatos em uma gaiola.
Quando a Peste Negra
atacou a Europa, dizimando quase um terço da população, inicialmente os
gatos foram considerados culpados e perseguidos, ordenando-se a sua
destruição. A associação da figura do gato ao culto ao demônio levou
inevitavelmente à sua vinculação à feitiçaria e às artes mágicas. No
século XV, na Alemanha, ressurgem cultos pagãos como o da deusa Freya. Em
1484, o papa Inocêncio VIII difunde a crença de que as feiticeiras
veneravam Satanás encarnado em gato.
Por toda a Europa, pessoas inocentes
foram torturadas em nome de Deus. E, com elas, seus gatos. Em Ypres, na
França, centenas de gatos eram atirados do alto de um campanário em um
festival anual. Milhares de gatos foram sacrificados em rituais durante a
Páscoa. A perseguição chegou até mesmo à América, quando, em 1692, várias
pessoas foram executadas em Salem, no estado de Massachusetts.
Entretanto,
mesmo nestes tempos inglórios, os gatos foram também companheiros amados
em alguns países, como na Rússia, onde eram comuns serem encontrados em
conventos e mosteiros. O Cardeal Richelieu possuía vários gatos, entre
eles um angorá preto chamado Lúcifer. No sul da França, corria a lenda dos
gatos mágicos chamados matagots, que traziam fortuna e sorte a quem os
acolhia e amava.
Com o passar do tempo, a perseguição foi recrudescendo, e
a importância dos gatos como controladores dos roedores foi reconhecido.
No século XVIII, são abolidas as leis sobre a feitiçaria, e até mesmo o
papa Pio IX rendeu-se aos seus encantos.
Fonte:
Planeta Gato/tribunaanimal.com
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